Projeto “Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis” revela graves problemas de falta de moradia e infraestrutura de Santana

Santana

O projeto colaborativo “Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis” chegou a Santana, o segundo maior município do estado do Amapá. Localizado a apenas 17 quilômetros da capital, o município apresenta graves problemas de falta de moradia adequada e infraestrutura. Com população estimada em 120 mil habitantes e área de 1.600 km2, grande parte de sua história remonta à instalação, em 1940, de uma grande empresa que explorou manganês em Serra do Navio e escoava a produção por sua região portuária. Coordenado pela doutora em urbanismo e mestre em planejamento urbano, Bianca Moro de Carvalho, o projeto busca sensibilizar o público para que possa ver, pensar e refletir sobre temas fundamentais para a construção de uma sociedade solidária, empática e resiliente. Nesta nova etapa, Bianca dirigiu e produziu um documentário sobre Santana, que revela seus problemas, história e o dia a dia das comunidades.

Santana

A importância do Rio Amazonas na vida dos moradores locais engloba desde as atividades de estaleiro até a alimentação, marcada pelo consumo do peixe e do açaí. E o Elesbão, um assentamento parcialmente em palafitas, já recebeu a proposta de Chancela de Paisagem Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Sua arquitetura vernacular foi considerada um elemento intrínseco à identificação e proteção do bem cultural. Mas um estudo da Universidade Federal do Amapá (Unifap) mostra que a água que banha a comunidade possui grande presença de metais pesados. Para os pesquisadores, moradores podem ter contraído doenças como a anemia e até câncer, após o consumo frequente da água. Eles também já constataram, através de exames de sangue, urina, cabelo, saliva e sangue, que algumas pessoas já apresentam alterações celulares, possivelmente, causadas por agentes químicos de poluentes ambientais.

 

A cada visita, o  projeto Cipesin também apresenta lideranças em realidades e estágios de atuação distintos, proporcionando reflexões sobre a diversidade que o mundo contemporâneo proporciona. E foi no bairro Elesbão que a equipe de “Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis” conheceu o líder comunitário Raimundo de Moraes Santos, mais conhecido como Senhor Moraes. Aos 69 anos, ele dedica-se a ajudar a comunidade e transformou sua própria casa na associação de moradores local. Lá, ele atende diariamente diversas pessoas e busca dar soluções para seus problemas. “Eu já fazia trabalhos sociais antes de vir morar aqui. Então, quando cheguei não podia ficar parado. Tudo começou quando montei um campinho de futebol. A partir disso, as pessoas passaram a me ver como uma pessoa que tem interesse pelo bairro. É necessário ter sensibilidade para ir em busca de solução”, conta o mecânico industrial aposentado, hoje responsável também por fazer o contato com as autoridades locais.

 

“Nós sabemos que o Brasil é um país de referência mundial nas mobilizações sociais urbanas, mas o Amapá tem demonstrado ser um caso sui generis, porque não é comum encontrar líderes tão articulados e comprometidos com seus vizinhos como o senhor Moraes. Dar visibilidade é de fundamental importância, pois são pessoas nativas da região que engrandecem e ajudam na preservação da cultura e da história local. Esse tipo de comunidade precisa ser mostrada, e como os moradores são fortes e engajados uns com os outros, a coletividade é exemplar”, explica Bianca.

 

A coordenadora do projeto conta também que o documentário chama a atenção para questões importantes sobre a dignidade da vida humana como necessidade de acesso à água tratada, energia elétrica, e necessidade de geração de renda para a subsistência da população local. “Um fato chocante é a presença do maior rio de água doce do mundo na frente da casa das pessoas, mas a água chega contaminada para o consumo. A paisagem local é belíssima, mas é lamentável não ter um programa de turismo ecológico  com a comunidade. Já conversei muito com a comunidade sobre o tema. Acho que eles poderiam receber pessoas para vivenciar a experiência de estarem nesse lugar, mas eles precisam de ajuda. Quem sabe agora eles consigam levar adiante a ideia de turismo”, enfatiza a diretora do documentário.

 

Sobre o “Cidades Invisíveis, Pessoas Incríveis”: É um projeto de mídia participativa que utiliza as ferramentas audiovisuais para divulgar e estimular práticas solidárias e transformadoras na sociedade. Já passou por Macapá, no Amapá (onde as favelas são conhecidas como ressacas, localizadas na Amazônia brasileira), por Paraisópolis (a maior comunidade da capital paulista), por Sendero de San Isidro (em Ciudad Juarez, no México, fronteira com os Estados Unidos) e por São Félix do Coribe, na caatinga baiana. Todos os vídeos estão disponíveis na plataforma cipesin.com

 

Ficha técnica:

Imagens: Bianca Moro, Giorgio Moura dos Santos e Marcos Ramon

Edição: Antonio Batista Júnior

Agradecimento: Associação de Moradores do Bairro do Elesbão (Amobel), Alexandre Pinheiro Lopes, Patrícia do Socorro Farias e Manoel de Jesus Silva Santos