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Gênero pode participar da configuração das emoções humanas

Valeska e seu novo livro Scripts Culturais, Gênero e Emoções - (Crédito: Daniele Leal)

 Psicóloga Valeska Zanello investiga em novo livro como homens e mulheres aprendem a sentir de formas diferentes em culturas sexistas

Até que ponto nossas emoções são naturais e quanto delas é aprendido? Essa reflexão guia o novo livro da psicóloga Valeska Zanello, “Scripts Culturais, Gênero e Emoções”, o qual será composto de dois volumes. O Volume 1 (Problematizando ‘Gênero’)” foi lançado em novembro pela Editora Appris. Autora dos best-sellers “Saúde mental, Gênero e Dispositivos” e “A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações”, Valeska aprofunda em sua nova obra a discussão sobre como o gênero atravessa a construção das emoções, afetando diretamente nossa forma de sentir, reagir e nos relacionar.

O primeiro volume da série que retrata gêneros e emoções: "Scripts Culturais, Gênero e Emoções" - (crédito: Divulgação/Valeska Zanello)

O primeiro volume da série que retrata gêneros e emoções: “Scripts Culturais, Gênero e Emoções” – (Crédito: Divulgação/Valeska Zanello)

Fruto de cinco anos de pesquisa, o livro parte da premissa de que as emoções também são construídas socialmente e atravessadas pelo gênero. Valeska analisa como homens e mulheres aprendem a sentir de maneiras distintas em culturas sexistas. “Um bom exemplo é a relação com o ódio, emoção que infelizmente é profundamente amputada na socialização das mulheres, em culturas ocidentais ou ocidentalizadas. Podemos ver isso nas situações de violência doméstica, nas quais muitas mulheres, apesar de todos os danos sofridos, se apiedam do agressor e preferem ter sua vida prejudicada a prejudicá-los”, afirma Valeska, professora de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

Com abordagem conceitual, epistemológica e histórica, o primeiro volume revisita o termo “gênero” e seus múltiplos significados, oferecendo ao leitor ferramentas teóricas para compreender como o sexismo estrutura tanto as relações sociais quanto os modos de subjetivação. Ao revisitar o conceito, Valeska reflete também sobre os impasses dos debates contemporâneos. “Debates que me pareceram mais monólogos do que verdadeiros diálogos, pois partiam de premissas não explicitadas ou problematizadas, como por exemplo, do que se está falando quando se refere à ‘Gênero’. Parto aqui da ideia de Wittgenstein, para quem o sentido de uma palavra é seu uso; ou seja, a mesma palavra pode ter sentidos muito diferentes. Se isso não fica evidenciado desde o início de um debate, facilmente o que parece um ‘embate’ seria, na verdade, monólogos sem pontes ou trocas”, explica a autora, que é doutora em Psicologia pela UnB.

O livro também propõe um diálogo entre gênero e saúde mental, articulando o impacto das desigualdades estruturais sobre a formação emocional dos sujeitos. Para Valeska, compreender o sexismo é essencial para entender o próprio funcionamento do capitalismo contemporâneo. “Sexismo e racismo são forças estruturantes e operantes no modo de funcionamento do capitalismo. O patriarcado capitalista produz, configura e interpela determinadas emoções. As emoções se inscrevem no corpo próprio, mas são mediadas pela cultura. O livro (no todo) é sobre essas emoções e como gênero participa na configuração das emoções.” A autora destaca que as divergências em torno da palavra “gênero” não se limitam a diferenças de uso entre movimentos sociais, mas expressam experiências subjetivas distintas. “Talvez precisemos criar novos conceitos para dar conta dessa complexidade, sem deixar de fora ou apagar nenhum grupo”, afirma.

Formada também em Filosofia, Valeska combina o olhar clínico e o pensamento teórico para propor uma reflexão que atravessa campos distintos. “Foi preciso retornar à ‘casa’, na filosofia, e trabalhar histórica e epistemologicamente os conceitos relacionados ao feminismo, seus sentidos e ligação a diferentes movimentos sociais (com várias transformações). De certa forma, todo meu percurso na filosofia e em meu doutorado (cujo tema foram as funções da metáfora na clínica em psicologia; escrita em uma perspectiva entre a psicanálise e a filosofia da linguagem) foram essenciais”, conclui.

Valeska e seu novo livro Scripts Culturais, Gênero e Emoções - (Crédito: Daniele Leal)

Valeska e seu novo livro Scripts Culturais, Gênero e Emoções – (Crédito: Daniele Leal)

Sobre a autora: Valeska Zanello é graduada em Filosofia e em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu o doutorado em Psicologia, com período de pesquisas na Université Catholique de Louvain (Bélgica). É professora do departamento de Psicologia Clínica da UnB, onde também orienta o mestrado e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em saúde mental, gênero, psicanálise e filosofia da linguagem. Coordena o grupo de pesquisa “Saúde Mental e Gênero”, com foco em mulheres e interseccionalidade com raça e etnia.

Obra sobre psicanalista Hélio Pellegrino vence Prêmio Jabuti Acadêmico

Larissa-Leao-de-Castro-e-vencedora-do-premio-Jabuti-Academico-em-psicologia-Bernadete-Alves

A psicanalista Larissa Leão de Castro está entre os  vencedores da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), na categoria Psicologia e Psicanálise. A conquista foi com a obra “Hélio Pellegrino: Por uma Psicanálise Política”, publicada pela Editora Appris. Com   análise de documentos inéditos, a obra inova ao mostrar a relação entre clínica e autoritarismo, resgatando o legado de Pellegrino em defesa da democracia.

No livro, a autora propõe uma visão da psicanálise que ultrapassa os limites clínicos, destacando seu papel ativo na denúncia das injustiças sociais e na construção de um projeto coletivo de sociedade. A  obra desvenda o arquivo inexplorado de Hélio Pellegrino (1924-1988), revelando manuscritos, cartas e ensaios psicanalíticos. E explora documentos da Fundação Casa de Rui Barbosa que expõem a luta do criador da primeira Clínica Social de Psicanálise do Brasil – um marco na democratização do acesso à saúde mental.

Larissa investiga o legado teórico, ético e político de Hélio Pellegrino, uma das figuras mais importantes da psicanálise brasileira no século XX e da quarta geração do freudismo internacional. Para ela, o livro resgata o valor de sua obra injustamente recalcada e ajuda a compreender por que Pellegrino continua sendo um dos pensadores mais atuais da psicanálise no país. “Sua síntese entre marxismo, teologia da libertação e psicanálise oferece respostas importantes à crise do capitalismo global e aos sintomas sociais resultantes de seu pacto perverso”, afirma. Patrono da Psicanálise Brasileira Socialmente Compromissada, por 36 anos silenciado, recobra agora o seu lugar nas manhãs de sol de cada um de nós.

A obra propõe reconstruir criticamente a trajetória intelectual de Pellegrino. E destaca a atualidade de seu pensamento, ainda não sistematizado na literatura científica, mostrando como sua abordagem psicanalítica incorpora um forte compromisso social e democrático.

Pellegrino é apresentado como referência fundamental de uma psicanálise engajada, que articula clínica, ética e política em defesa da humanidade, da democracia e da justiça social. Seu pensamento ganha destaque por colocar a transformação das estruturas sociais no centro da prática psicanalítica, revelando o potencial da psicanálise como instrumento de resistência frente às desigualdades e à lógica excludente do capitalismo global.

Sobre a autora: Psicanalista e psicóloga, doutora em psicologia clínica e cultura. Foi professora na área da psicologia social e psicanálise na Universidade Federal de Goiás – Regional Jataí (UFG-REJ). Pesquisa principalmente sobre subjetividade, cultura, psicanálise, educação, violência, fundamentos teóricos e projetos políticos de sociedade.

Sobre a editora: O Grupo Editorial Appris conta com cinco selos editoriais, das mais diversas áreas técnicas, científicas e literárias. Com 14 anos no setor e a experiência de seus editores, que atuam há mais de 35 anos no mercado editorial, a Appris possui um catálogo com mais de 12 mil obras publicadas e que continua a crescer com uma média de 70 lançamentos por mês.